A Mente que Aprende: O Verdadeiro Caminho do Guerreiro Começa Onde o Ego Encerra o Debate
- J. R. Flausino

- 13 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de set.
Por Jefferson Flausino
No mundo das artes marciais tradicionais, somos ensinados desde cedo que o combate mais difícil não é contra o outro, mas contra nós mesmos. Contra a rigidez das nossas crenças, a defesa automática do ego, o medo de ser corrigido - e, sobretudo, a ilusão de que já sabemos o suficiente.

No Dojo, isso se revela nos pequenos gestos: quando o aluno interrompe para justificar um erro, quando repete o mesmo movimento sem escutar a orientação, ou quando reage com impaciência a um ensinamento que confronta suas certezas.
É aí que começa, de fato, a arte do Bujutsu.
O Dojo não é um palco. É um espelho.
Ao contrário do que muitos imaginam, o Dojo não é um lugar de exibição, mas de revelação.Cada treino é um espelho onde o praticante, se estiver atento, verá muito mais do que técnicas: verá a si mesmo.
Verá o quanto evita ser corrigido. O quanto se incomoda com autoridade. O quanto tenta impor seu estilo, mesmo sem saber o básico.
A mente do guerreiro não nasce pronta. Ela é forjada no atrito. E esse atrito não vem do combate físico - mas da disciplina de ouvir e obedecer antes de querer compreender.
Você não precisa concordar com tudo.
Mas precisa estar disposto a aprender.
Essa é uma máxima que se aplica com perfeição ao caminho marcial.Não é preciso gostar de todas as ordens do sensei, nem entender de imediato cada ensinamento transmitido. Mas é necessário humildade para escutar, disciplina para repetir e silêncio interior para absorver.
Nas artes marciais tradicionais, isso é chamado de Shoshin – a mente de principiante.É o estado daquele que se aproxima do Dojo não com arrogância, mas com reverência. Com sede de aprender, não com pressa de demonstrar.
Ukemi: a arte de cair para aprender a levantar
Talvez um dos maiores ensinamentos do Bujutsu seja a arte de cair bem. Cair com consciência, cair com dignidade, cair preparado.
Ukemi não é uma técnica de sobrevivência apenas. É uma metáfora da vida marcial: saber cair é aceitar ser derrubado pelo que ainda não dominamos - e, ainda assim, levantar melhor do que antes.
O aluno que não aceita cair, que resiste ao ensinamento por orgulho, cairá mesmo assim - mas sem aprender nada.
Mokuso: o silêncio que precede o combate interior
Em muitos Dojos, iniciamos e encerramos a prática com mokuso — o silêncio meditativo. Ele não é um momento de descanso. É um ritual de reintegração com a essência do caminho marcial.
Ali, o praticante se despe do personagem, silencia a pressa, e se abre para algo maior: o vazio criativo onde o verdadeiro aprendizado acontece.
É nesse silêncio que a frase ressoa com mais força:
“Você não precisa concordar com tudo. Mas precisa estar disposto a aprender, para entender aquilo que acha que já sabe.”
O verdadeiro guerreiro não luta para vencer, apenas. Ele luta para compreender.
Ele compreende que o adversário externo é, muitas vezes, apenas um reflexo das batalhas internas. E que cada correção recebida, cada técnica ajustada, cada gesto de humildade cultivado - é uma vitória invisível sobre a ignorância que nos limita.
Por isso, no Bujutsu, a força sem escuta não forma o guerreiro. Mas a escuta sem defesa, sim. Essa forma o espírito.




O primeiro princípio é que você não deve se enganar — e você é a pessoa mais fácil de enganar.